O deputado federal e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Alexandre Ramagem, prestou depoimento de quase sete horas na Superintendência da Polícia Federal (PF), no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (17),
Ele chegou pouco depois das 15h e não falou com a imprensa. Ao sair da sede da PF, Ramagem também se recusou a falar com a imprensa.
Ramagem, que foi diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi ouvido pela primeira vez pela PF desde que passou a ser investigado por ter utilizado o órgão que dirigia para espionar desafetos de Bolsonaro.
De acordo com o canal de TV CNN, citando integrantes da PF, Ramagem “respondeu as perguntas ao seu modo”, disse estar “esperando por esse momento” e negou qualquer irregularidade relacionada a espionagem ilegal.
Na segunda-feira (15), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo de uma gravação de conversa entre Bolsonaro e Ramagem.
No encontro, que também contou com a participação do general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e advogadas do atual senador Flávio Bolsonaro.
A gravação revela que foram discutidas estratégias para proteger Flávio Bolsonaro das investigações sobre suposta rachadinha, quando ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
De acordo com a Polícia Federal, a conversa aconteceu em agosto de 2020, quando Bolsonaro e Ramagem tentaram montar um plano para blindar o senador das investigações.
Com pouco mais de uma hora de duração, o áudio aponta que a Abin tentou saber detalhes da investigação de Flávio Bolsonaro por uso ilegal de dinheiro público.
Segundo a PF, agentes que participavam do esquema monitoraram três auditores da Receita Federal responsáveis pelo relatório fiscal que baseou a investigação.
Em um trecho da gravação, o ex-presidente Bolsonaro chegou a sugerir que fosse realizado contato com o chefe da Receita Federal e do presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) para discutir a investigação contra o filho, apontado como responsável pelo desvio de salários de funcionários de seu gabinete no estado fluminense.
De acordo com a PF, no áudio é identificada ainda a atuação de Ramagem para instaurar procedimento administrativo contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar os auditores de seus respectivos cargos. Em 2020, um dos três auditores foi exonerado pelo governo.
O senador Flávio Bolsonaro disse nas redes sociais que não tinha relações com a Abin.
A gravação da reunião faz parte dos autos da Operação Última Milha, que desmontou o esquema conhecido como Abin paralela, grupo instalado na Agência durante o governo Bolsonaro. Ramagem, por sua vez, publicou um vídeo em seu perfil na rede social X, afirmando que a gravação não foi clandestina e que o ex-chefe, Jair Bolsonaro, tinha conhecimento da gravação.
“Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente. A gravação aconteceu porque veio uma informação de uma pessoa que viria na reunião, que teria contato com o governador do Rio à época [Wilson Witzel], que poderia vir com uma proposta nada republicana. A gravação seria para registrar um crime contra o presidente da República, só que isso não aconteceu. A gravação foi descartada!”, disse, justificando a gravação.
Ramagem ainda inocentou o ex-chefe do Executivo, afirmando que ele não estava disposto a “nenhum jeitinho”.
Após rumores da substituição de Ramagem como nome do PL para as eleições municipais no RJ, nesta quarta-feira, Bolsonaro e o pré-candidato apareceram juntos em um vídeo anunciando aparições juntos em encontros nos próximos dias em diferentes pontos do Rio.
Desde 2023, a PF investiga o uso ilegal de sistemas da Abin pelo ex-presidente para espionar opositores e desafetos pessoais como o ex-governador de São Paulo João Doria, servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), auditores da Receita Federal, entre vários outros.