Um teste da capacidade do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de navegar sobre questões muito complexas da realidade política latino-americana. Assim pode ser definida a viagem do presidente Lula ao Chile, segundo especialista ouvido pela Sputnik Brasil.
A definição trata do encontro de Lula com seu homólogo chileno, Gustavo Boric, nesta segunda-feira (5).
Lula e Boric tiveram uma conversa privada e assinaram, nesta segunda, acordos bilaterais no Palácio de La Moneda, na capital chilena.
Durante coletiva realizada na última quinta-feira (1º), o Itamaraty informou, embora seja naturalmente debatido, que o assunto Venezuela não deveria ser o centro das atenções da reunião entre os chefes de Estado.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de tratarem a temática durante o encontro, Elton Gomes, doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), sublinhou que o tema ainda é um assunto delicado.
Segundo ele, a viagem foi marcada em meio a um clima de muitos protestos e vaias, em que o presidente chileno foi vaiado. O presidente brasileiro, quando chegou a Santiago, também foi vaiado, refletindo tanto a complexidade das relações regionais quanto a pressão internacional sobre o governo.
“Esse é um processo político ainda em andamento, com muitos interesses em conflito e com muita informação que não chega para fora dos ciclos diplomáticos e das figuras de Estado que dispõem dessas informações”, disse o especialista à agência.
Ele elencou que a primeira coisa que é preciso levar em consideração é que, em suas palavras, a visita do presidente brasileiro ao Chile acontece em um contexto de “tensões políticas acirradíssimas na América Latina, em especial por conta da situação da Venezuela”.
Durante pronunciamento nesta segunda (5), Lula pediu mais transparência no processo eleitoral em Caracas.
“Expus [durante a conversa com o Boric] as iniciativas que tenho empreendido com os presidentes Gustavo Petro [Colômbia] e López Obrador [México] em relação ao processo político na Venezuela. O respeito pela tolerância, o respeito pela soberania popular, é o que nos move a defender a transparência dos resultados. O compromisso com a paz é o que nos leva a conclamar as partes aos diálogos e promover o entendimento entre governo e oposição“, afirmou Lula.
Gomes pontuou que a visita do presidente brasileiro ao Chile destaca as tensões e os desafios na política externa dos dois países, especialmente em relação à Venezuela. Segundo ele, enquanto Boric adota a postura de condenar o governo venezuelano, Lula “adota uma retórica de diálogo e não intervenção”.
Relações na América Latina
O Brasil e o Chile estão interessados em fortalecer suas relações econômicas e explorar parcerias em tecnologia e inovação, refletindo uma agenda bilateral que prioriza o crescimento econômico e a cooperação sustentável.
“O encontro, de modo geral, revela a tentativa do Lula em seu terceiro mandato, junto com o chanceler Mauro Vieira e o ex-ministro, ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente para a política chilena, que acaba atuando como espécie de chanceler oficioso, de tratar de parcerias importantes com o Chile“, sublinhou.
“A visita de Lula ao Chile pode ser vista como uma tentativa de reforçar os laços diplomáticos na região, mas também não deixa de ser um teste da sua capacidade de navegar sobre questões muito complexas da realidade política latino-americana.”